Uma Sobrevivente do tráfico de pornografia adolescente "denuncia" o Pornhub

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Eu fui traficada para a indústria pornográfica há algumas décadas, muito antes de alguém ouvir o termo tráfico sexual. Todos pensavam que o estilo de vida pornô era uma mansão da Playboy e que a vida de quem era envolvida em pornografia era como do filme uma Linda Mulher. Eu não tinha noção da possibilidade do meu tráfico não ter sido minha culpa, mesmo eu sendo menor de idade todo o tempo,  dos 11 aos 17 anos .

Meu pai me traficou para a prostituição quando eu tinha 11 anos. Ele não era o cafetão. Ele era o intermediário. Ele me colocava no carro todas as noites com dois homens que me levavam a um armazém, tipo bordel. Eu morava em casa e frequentava a escola, mas noite após noite eu era traficada para prostituição e depois para pornografia.

Ver os crimes do Pornhub serem expostos em todos os telefones e telas de computadores nas últimas semanas, tem sido profundamente satisfatório. Parece vingança cármica para todos os vídeos de mulheres e crianças que foram traficadas e estupradas, e que ainda estão expostas no site deles.

Mais do que apenas uma vingança, é o momento em que a justiça começa a ser feita para inúmeras garotas que como eu foram traficadas para pornografia. Finalmente podemos dizer que fomos traficadas para indústria pornográfica e as pessoas entenderam.

O tráfico de pornografia existe no oculto há décadas, mas agora é exposto à luz do dia para todos verem. Toda questão social, em algum um momento, vem à tona e nossa cultura se torna consciente dela como um problema do nosso tempo. Este é o momento em que nossa cultura finalmente vê os abusos da indústria pornográfica como uma questão social e urgente.

Laila Mickelwait, Diretora da abolição da pornografia da Exodus Cry, procurou o Pornhub, o maior site pornô do mundo. Enquanto ela tuitava, ela tinha provas que comprovava a cumplicidade do Pornhub em crimes postados no site, as pessoas viram e responderam. Ela iniciou uma petição para "fechar o Pornhub e responsabilizar seus executivos" e em duas semanas a petição obteve 300.000 assinaturas a favor da causa.

Finalmente, a indústria pornográfica e seus agentes, neste caso os sites pornográficos, estão sendo vistos e expostos como os predadores que são. E eles devem ser responsabilizados e impedidos de lucrar com a exploração dos vulneráveis, que geralmente são adolescentes menores de idade.

Os menores de idade na pornografia não são um problema separado da indústria de pornografia adulta. Sempre houve meninas e meninos adolescentes na indústria de pornografia adulta. Eu era uma delas. Eu tinha 14 anos quando fui traficada para a indústrica pornográfica.

Essas sessões em que crimes são cometidos contra adolescentes não acontecem à luz do dia em cenários públicos. Minhas filmagens aconteciam à noite, mas era na indústria de pornografia adulta. Eu estava cercada por pessoas com pelo menos o dobro da minha idade, homens e mulheres. Isso significa que todos os adultos naquele set foram cúmplices dos crimes cometidos contra mim.


O SEXO, A VIOLÊNCIA, A TORTURA, O MEDO E A DOR EM MEUS OLHOS E MEUS GRITOS FORAM 100% VERDADEIROS.


E como os casos contra o Pornhub vieram à luz, aqueles sites que distribuíram ou hospedaram meus filmes também foram cúmplices dos crimes cometidos contra mim.

A pornografia adolescente é uma das categorias mais pesquisadas no Pornhub, de acordo com Mickelwait. “A pesquisa resulta em vídeos que são constantemente adicionados mais rapidamente do que qualquer pessoa possa assistir. Muitos apresentam garotas que parecem ter 13 anos na melhor das hipóteses.

E sabemos que enquanto houver demanda, traficantes, exploradores e meios pornógraficos criarão a oferta por todos os meios possíveis. Eu fui pega no meio daquele sistema frio de oferta e demanda quando eu tinha 14 anos. E a brutalidade daqueles três anos no tráfico de pornografia quase me matou.

Eu não fui filmada  no apartamento escuro de um pedófilo que estava sozinho. Eu fui filmada em um set cheio de câmeras, equipe e “artistas”. Eu os chamo de artistas para que você entenda o que quero dizer, mas você precisa saber que tudo isso era real. O sexo, a violência, a tortura e o medo e a dor nos meus olhos e nos meus gritos eram 100% verdadeiros.

O resultado da crueldade que eu sobrevivi naquelas filmagens pornográficas tem sido o medo das pessoas que somente agora estou superando. Todo crime foi registrado e vivido como combustível masturbatório para os homens. Por muito tempo, andar pela rua foi algo difícil, porque eu não sabia quem tinha assistido as minhas filmagens. Então eu passei a nunca olhar para cima. Aprendi a olhar nos olhos das pessoas novamente, mas levou anos para eu vencer isso.

O aumento de vídeos pornográficos curtos que podem ser enviados para sites apenas aumentou o número de crimes usados ​​como combustível masturbatório em sites como o Pornhub.

Rose Kalemba tinha apenas 14 anos quando foi brutalmente estuprada por dois homens por 12 horas, enquanto um terceiro homem filmava o incidente. Alguns meses depois, enquanto estava navegando online, ela se viu marcada em um link. Quando ela clicou, foi levada para o Pornhub, para o vídeo do seu estupro.

Ela entrou em contato com a Pornhub por 6 meses, dizendo que não era consensual e que ela era menor de idade. Pornhub se recusou a tirar o vídeo do ar. Então, finalmente, ela se apresentou com uma advogada e ameaçou processá-los. Só então eles tiraram o vídeo do ar.

O meu "não" nunca impediu que qualquer violação ou violência acontecesse comigo. No cenário pornô, talvez o meu "não" era excitante. Foi um sinal para que eles acelerassem e aumentassem a violação e a violência. O meu "não" era um desafio que sempre acabava comigo, eu ficava no chão tremendo violentamente.


NO PORNÔ, EU ERA DOMINADA POR UM GRUPO DE HOMENS E MULHERES TODAS AS NOITES. NO FINAL, NA MAIORIA DAS NOITES, EU NEM CONSEGUIA ME LEVANTAR E FICAR DE PÉ.


No ano passado, 22 mulheres testemunharam que foram enganadas na produção de pornografia na Internet para o um dos sites pornográficos mais conhecido, Girls Do Porn. Eles tiveram a garantia de que o conteúdo nunca seria publicado online. A fraude de um dos indicadores do tráfico sexual, estava presente no caso delas. E seus vídeos foram postados em vários sites, incluindo o Pornhub, agora conhecido por hospedar vídeos de estupro de menores dentre outras coisas.

As histórias deles revelam o tráfico pornográfico, planejado e perpetrado na indústria pornográfica convencional. A “força, fraude e coerção” que está no centro da definição federal e da ONU de tráfico sexual existe em toda a indústria pornô. E sites como o Pornhub não podem mais se esconder atrás de "não sabíamos", o que provavelmente é uma mentira. "Não queríamos saber porque estávamos ganhando dinheiro com eles" seria o mais perto da verdade.

Pelo bem dos nossos filhos e dos vulneráveis ​​que estão sendo traficados em suas páginas, sites como o Pornhub precisam começar a se importar. Não é opcional. Os sites que hospedam pornografia gerada por usuários precisam ter sistemas para verificar a identidade, idade e consentimento daqueles que postam e dos que estão nos vídeos. Esse processo deve ocorrer antes da publicação dos vídeos em seus sites. E eles devem fazer parceria com organizações como Thorn, que desenvolveram tecnologia para ajudar a identificar material de abuso sexual online.

Em seu Ted Talk, Julie Cordua, CEO da Thorn, conta a história da Imgur, uma empresa com a qual eles fizeram parceria, onde os usuários carregam milhões de conteúdo todos os dias. Depois de 20 minutos "subindo conteúdo" online , um material de abuso sexual foi identificado. Quando analisaram a conta do usuário, encontraram centenas de outros materiais de abuso sexual. Portanto, o Pornhub e sites como esse não têm desculpa para não tomar conhecimento.

A narrativa principal que a indústria pornográfica e seus agentes, sites e distribuidores usam é que "a pornografia é entre adultos que consentem" - não estou dizendo que isso nunca aconteça. Pode haver cenas pornôs e até filmes inteiros feitos com adultos que, na maioria das vezes, consentem. Mas a questão da força, fraude e coerção é sempre uma realidade nos sets pornôs.

Para mim, o cenário pornô não era uma orgia divertida. O cenário pornô era uma multidão enfurecida, sedenta por estupro e violência. Essa dinâmica de você contra a multidão é o que torna a exploração pornô diferente de todas as outras formas de exploração sexual.

Na prostituição, fui repetidamente dominada, mas geralmente por um homem. No pornô, eu fui dominada por um grupo de homens e mulheres todas as noites. No final, da maioria das noites, eu nem conseguia me levantar e ficar de pé.

Minha história é uma história do tráfico da pornografia. É uma história cheia de autores, mas também é cheia de cúmplices dos crimes cometidos contra mim. A indústria da pornografia tem autores e cúmplices de crimes por causa de sua inação, como o Pornhub. Ambos devem ser abordados.

O tráfico de pornografia é real e já existe há décadas. Os crimes contra nós foram escondidos por anos. Eles foram escondidos pelos autores e pelos cúmplices de seus crimes, mas agora verão a luz do dia.