O vício em pornografia e as crianças: quem está mais vulnerável

This article is a transcript of an interview between Kristen Jenson and Dr. Mateusz Gola. The transcript has been edited for clarity and accuracy. You may watch or read the interview below.

Esse artigo é a transcrição da entrevista entre Kristen Jenson e Dr. Mateusz Gola. A transcrição foi editada para maior clareza e fidelidade.

O HISTÓRICO DO DR. GOLA NA PESQUISA E TRATAMENTO DO USO PROBLEMÁTICO DA PRONOGRAFIA

KRISTEN: Eu estou muito animada hoje porque o Dr. Gola está conosco para falar mais sobre a dependência e a ciência do cérebro por trás dela, especialmente quando se trata de pornografia. Ele vai nos ajudar a entender as atuais pesquisas sobre o assunto. Essa é uma grande oportunidade para ter uma atualização no mais recente estudo da neurociência dos vícios.

Bem-vindo, Dr. Gola. Obrigada por estar aqui comigo hoje.

DR. GOLA: Obrigada por me receber, Kristen. É um prazer dividir esse conhecimento com você e com todos que irão assistir.

KRISTEN: Os membros da nossa comunidade Defend Young Minds, estão muito interessados em educar seus filhos para se livrarem da pornografia, outros vícios e dos perigos digitais.  

Antes de começarmos, eu preciso apresentá-lo propriamente e falar da sua experiência.

Dr. Gola é psicoterapeuta e neurocientista. Ele ajuda pessoas com dependência através do trabalho clínico e está envolvido em pesquisas de ponta. Ele também é professor adjunto na Academia de Ciências Polonesa, o que é realmente impressionante, e na Universidade da Califórnia em San Diego.

Dr. Gola é líder no campo de estudos da neurociência do problemático uso da pornografia. Às vezes, chamado de PPU - uso problemático da pornografia. Ele é também autor e coautor de mais de 120 pesquisas publicadas. Isso, por si só, demonstra o quão profissional ele é no assunto.

Mas, nas horas vagas ele também gosta de surfar, o que é perfeito estando na Califórnia. Além disso, ama conhecer pessoas novas enquanto viaja o mundo, algo que eu amo fazer também.

Muito obrigada por estar aqui conosco.

Vamos começar falando um pouco do início de tudo antes da ciência em particular. Como iniciou seu interesse em ver como a pornografia afeta o cérebro?

DR. GOLA: Antes de tudo, eu sempre quis fazer algo para as pessoas e ajudar o máximo de pessoas possível. Na Polônia, eu comecei meus estudos em psicologia clínica. Eu consegui um doutorado em psicologia clínica e comecei a trabalhar com pacientes.

Enquanto trabalhando com pacientes, eu majoritarimente atendia pessoas com diferentes tipos de dependências e havia também pessoas que estavam em busca de tratamento por causa do vício em pornografia, o uso problemático da pornografia, e às vezes, outros comportamentos sexuais.

Em 2010, 2009 eu percebi que pouco se sabia a respeito do assunto. Não havia boas pesquisas ou dados sistemáticos sobre como ela altera o seu funcionamento, como ela influencia seu cérebro ou mesmo como auxiliar essas pessoas. Também não estava listado em nenhuma classificação desta ordem, então não era um problema “oficial”.

Algo muito marcante foi que, naqueles sete anos de estudos para me tornar um psicólogo clínico, não houve nem 1 hora do programa educacional em que fosse abordado o comportamento compulsivo sexual ou o uso problemático da pornografia. Nada.

Dr. Gola foi em busca de um doutorado em neurociência e começou uma extensa pesquisa sobre o uso problemático da pornografia e então, usou a pesquisa para desenvolver um programa de tratamento eficaz.

KRISTEN: Então você começou porque percebeu que havia esse tanto de pessoas que enfrentavam esse mesmo problema, e ainda assim, no seu curso de estudo na graduação não havia ao menos uma aula ensinando como ajudar pessoas com tal problema. Então você simplesmente foi, descobriu, começou o aprendizado e pesquisou a fundo. Isso é maravilhoso. É realmente um dom.

DR. GOLA: Agora, graças a essas pesquisas nós podemos ter uma melhor compreensão do problema. Agora estou de volta com o trabalho clínico. (Por causa dessas pesquisas) é mais fácil ajudar pessoas, e (o tratamento) é mais eficaz atualmente.

Mas, o mais importante é que nós aumentamos a consciência do problema através do conhecimento, e assim, todo programa de treinamento para médicos atual possui aulas ou até treinamentos extensivos sobre transtornos do comportamento sexual compulsivo, vícios comportamentais e também pornografia.

KRISTEN: Isso é incrível. É um grande passo.

É MAIS FÁCIL PREVENIR DO QUE TRATAR O USO PROBLEMÁTICO DA PORNOGRAFIA

KRISTEN: No Defend Young Minds, como autora do Good Pictures Bad Pictures, nós entregamos ferramentas nas mãos dos pais para que eles possam saber como iniciar conversas com as suas crianças, afim de evitar o problema. Pois eu tenho conversado com muitas pessoas, a maioria homens, mas há também mulheres que estão presas no vício da pornografia. E elas têm vindo até a mim e têm dito: “Eu gostaria que meus pais pudessem ter tido algo que eles pudessem usar para falar comigo sobre isso.” Em outras palavras, “Eu gostaria de ter sido alertado quando criança, antes de ter contato com a pornografia.”

Então, eu posso ver que nossas missões são de fato complementares.

DR. GOLA: Eu quero dizer que o que você está fazendo é muito importante, admiro esse trabalho, especialmente essa ideia de propagar conhecimento e habilidades básicas através de livros tão interessantes.

É mais fácil prevenir do que tratar. Por isso, essa prevenção é muito, muito importante.

COMO O USO DA PORNOGRAFIA SE TORNA UMA DEPENDÊNCIA

KRISTEN: Falando sobre nosso cérebro e dependência, sabemos que nossos cérebros são maleáveis, são como “plásticos” em certo sentido, eles mudam. Cada experiência que temos muda um pouco nosso cérebro, de pequenas maneiras. Mas, como o uso da pornografia muda o cérebro de maneiras maiores, de maneiras mais sérias que começam a impactar negativamente a vida de uma pessoa?

DR. GOLA: É uma ótima pergunta e foi o foco principal de nossas pesquisas nos primeiros anos. Primeiramente, temos que entender o que é vício. E isso não é óbvio, nem entre cientistas.

Uma das características mais comuns em diferentes vícios, tanto relacionados a substâncias quanto a comportamentos, tais como vícios em apostas, jogos, ou neste caso que estamos tratando, sobre o problemático uso da pornografia, é que há uma grande desproporção entre o esforço que é necessário realizar para receber a recompensa. A recompensa é muito maior que o esforço que você faz.

Quando falamos de comportamentos sexuais regulares, alguém, por exemplo, que quer ter seu primeiro encontro sexual. Leva algum tempo, muito esforço. Precisa estar com uma boa aparência, precisa se apresentar, precisa construir um relacionamento e, em algum momento, você faz sexo. Então, é um esforço enorme. E há uma recompensa.

Quando falamos de pornografia, você não precisa estar com boa aparência, você não precisa se apresentar, apenas alguns cliques no seu celular ou no teclado e Boom! Você tem muito estímulo sexual e também pode ter orgasmos, podendo ter até múltiplos orgasmos em apenas um dia, quando se tem o vício, acontece com muita frequência. E essa recompensa é completamente desproporcional ao esforço.

E então o poder viciante é enorme. E o que acontece? Quando você sente prazer, o que satisfaz nossas necessidades, o que é recompensador, então a recompensa circula pelo cérebro, especialmente o estriado ventral ou córtex pré-frontal - eles estão aprendendo todas as pistas ou deixas que podem prever essa recompensa.

Então, começamos a aprender muito rápido que, se A acontecer, posso esperar tal recompensa. Se eu me comportar bem, ganharei algum dinheiro extra. Se eu tiver um bom desempenho no trabalho, vou receber um aumento no meu salário.

Mas também há um aprendizado muito simples. Como quando estou sozinho em casa, posso assistir pornografia. Quando tenho acesso a este tablet ou celular, que não é filtrado, posso assistir pornografia. E se eu tenho assistido pornografia em certas circunstâncias com muita frequência ou se eu tenho assistido pornografia como resposta a uma emoção específica. Assim, sempre que me sinto triste, deprimido, irritado, solitário, frustrado, o que quer que seja, o cérebro começa a reconhecer as circunstâncias ou estados emocionais como deixas.

E então, o que acontece? A dopamina é liberada, e a dopamina desempenha um papel muito importante na motivação. Ela é lançada em resposta a sugestões de coisas diferentes, por isso que, quando vemos o nosso avô sabemos que se formos legais podemos ganhar algum dinheiro, então ficamos motivados a nos comportar bem.

No entanto, quando esse mecanismo é impulsionado por outras deixas, que estão associadas ao conteúdo pornográfico, começamos a fazer tudo o que podemos para ter acesso a pornografia. Ficamos muito motivados para ter esse acesso e começar a assistir para encontrar algo excitante, se masturbar e ter um orgasmo - esta é a recompensa final.

Com o tempo, quando esse comportamento se repete milhares de vezes, se torna automático e muito forte, então em algum momento é tão forte que não é mais percebido como motivação, é algo que lembra uma ânsia. Há uma necessidade muito forte de fazer isso e é muito difícil restringir.

Temos a capacidade de inibir nossas ânsias, nossos desejos - o córtex pré-frontal desempenha um papel muito importante nisso. E é por isso que sempre que decidimos fazer dietas, podemos resistir a comer doces e assim por diante, e alcançar nossos objetivos de longo prazo. Quando vamos à escola, aprendemos primeiro a fazer o dever de casa e depois brincar, e podemos resistir à tentação de brincar antes de fazer o dever de casa e assim por diante. E não assistimos pornografia em lugares e horários aleatórios.

Mas quando o córtex pré-frontal não consegue inibir o corpo estriado ventral, aquelas vias de recompensa, então não conseguimos mais controlar nossos comportamentos.

KRISTEN: Então esse é o verdadeiro marcador de um vício. Quando esse cérebro pensante é ignorado. O cérebro pensante não pode mais controlar o impulso e o desejo de fazer algo para obter pornografia.

O efeito que a pornografia tem no cérebro

DR. GOLA: O vício acontece em pelo menos dois cenários. O primeiro cenário é através de múltiplas repetições do mesmo comportamento - assistindo pornografia, neste contexto específico, como resposta a emoções específicas, e assim por diante - nós desenvolvemos uma sensibilização muito forte para as deixas e, em seguida, o corpo estriado ventral se torna mais responsivo, reagindo imediatamente e muito fortemente a certos estímulos. É como um vampiro - se você tem essa pequena deixa, se temos uma gota de sangue, não conseguimos parar por aí, temos que morder e sugar o sangue. Precisamos percorrer todo o caminho para ver pornografia, se masturbar, chegar ao orgasmo.

O segundo cenário é quando algo acontece com o córtex pré-frontal. Estudamos adultos e vemos que adultos que estão nesse nível de uso problemático de pornografia e estão procurando tratamento por causa disso, têm menos massa cinzenta, menos células neuronais nas mesmas partes do córtex pré-frontal que as pessoas viciadas em álcool ou jogos de azar. Não sabemos se isso é algo que é pré-existente, meu palpite é que sim, que isso é algo pré-existente que cria alguma vulnerabilidade para desenvolver algum tipo de vício. Poderá ser um efeito da pornografia? Provavelmente não. O efeito do uso de pornografia é a sensibilização do corpo estriado ventral.

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CRIANÇAS E O VÍCIO PORNOGRÁFICO

DR. GOLA: Quando se trata de crianças, sabemos que o córtex pré-frontal se desenvolve até os 18, 19 anos no caso das mulheres, e nos homens demora um pouco mais, até os 20, 21 anos. Então quanto mais cedo for exposta à coisas potencialmente viciantes - como a pornografia - menos capaz a criança será de inibir o vício, e a chance do desenvolvimento de um padrão problemático é mais alta.

KRISTEN: Quanto mais jovens começam, mais isso pode afetar seu cérebro, é isso que quer dizer?

DR. GOLA: Provavelmente sim. Ainda não temos dados claros sobre isso. Porém, sabemos que quando somos mais jovens, temos uma habilidade menor de controlar nossos comportamentos. Por isso, não vendemos álcool para pessoas com menos de 18 anos na Europa e 21 anos nos Estados Unidos. Deste modo, “oficialmente” a pornografia é permitida aos 18 anos, não aos 12, 13 ou 10 anos.

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EXPOSIÇÃO DE CRIANÇAS À PORNOGRAFIA

DR. GOLA: Acabamos de publicar um estudo no qual estávamos rastreando o comportamento de 300.000 pessoas na internet. Entre elas havia também crianças, a partir de sete anos de idade. E adivinhe quantas crianças em um grupo de 7 a 10 estavam assistindo pornografia pelo menos uma vez por mês.

KRISTEN: Eu vou deixar com você a resposta porque essa era minha próxima pergunta. Quais foram os dados das crianças que assistiam pornografia? Quais são os dados mais recentes? Me fale um pouco mais sobre isso.

DR. GOLA: 25% dos meninos e meninas. Ou seja, uma em cada quatro eram crianças que assistiam pornografia pelo menos uma vez por mês.

KRISTEN: Entre 7 e 10 anos. Bem, eles têm acesso à isso. Como você disse anteriormente, não os deixamos sair e comprar cigarros. Não deixamos uma criança de oito anos sair e comprar álcool na loja da esquina. Mas damos a eles acesso a um celular ou tablet e eles vão e descobrem.

Eu estava conversando com alguém que me contou sobre uma mãe cujo marido era especialista em TI e ele pensava que havia protegido totalmente o celular, mas a mãe sentiu uma necessidade de verificar o celular de seu filho de 15 anos, e seu marido o fez. Eram horríveis as coisas que estavam lá e tinha sido apenas uma semana e meia. Ele (o filho) tinha acabado de começar um novo emprego, e um novo colega de trabalho mostrou a ele como contornar esse controle (do filtro). As crianças ensinam umas às outras. E naquela semana e meia seu semblante havia mudado e ele parecia sombrio e estava se retraíndo.

E eu já ouvi isso antes. Por exemplo, quando eu comecei a escrever meu livro Good Pictures Bad Pictures, eu me recordo de uma menina de 8 anos de idade. Sua mãe a deu um dispositivo com internet liberada e ela também conversou com ela sobre sexo. Bem, essa garotinha viu como seus pais iriam ao Google para obter respostas, então ela digitou sexo e começou a ver pornografia e ao longo dos meses ela se tornou cada vez mais retraída. Ela era uma garotinha feliz, a pornografia realmente afetou sua personalidade. Até que seus pais descobriram, felizmente, e a levaram para um aconselhamento e ela conseguiu ajuda.

Mas as crianças têm acesso, são curiosas e não sabem (que é perigoso) a menos que você diga a elas. Elas não têm ideia que isso poderá ter sérias consequências futuras.

E as crianças são muito orientadas para o "agora". Se você as disser que isso poderia afetar suas habilidades de encontrar alguém para se casar daqui quinze anos, ou coisas do tipo, elas não ficarão muito interessadas. Elas estão muito mais focadas em suas vidas no presente. No entanto, elas precisam pelo menos de um aviso, elas precisam ser capazes de entender que podem ser impactadas negativamente de uma enorme maneira ao verem pornografia.

QUEM É MAIS VULNERÁVEL A DESENVOLVER O PROBLEMÁTICO USO DA PORNOGRAFIA?

DR. GOLA: Definitivamente a pornografia não afeta todos da mesma maneira. Isso é importante ressaltar para não entrarmos em pânico. Sabemos que cerca de 11% dos meninos dizem ter a experiência de perder o controle sobre o uso de pornografia, então sabemos que (a maioria não está experimentando o uso problemático de pornografia). Então isso não afeta a todos da mesma maneira, mas pode afetar algumas pessoas dessa maneira.

KRISTEN: Certo, assim como o álcool. Alguns conseguem beber com moderação e outros têm suas vidas completamente destruídas. E eu tenho esses dois tipos de pessoas na minha família. O problema é que você não sabe exatamente como isso afetará alguém.

Mas você pode nos dizer - explique quem você sente que é o mais vulnerável à desenvolver um vício em pornografia.

E podemos falar sobre vício, que é muito importante evitar. Entretanto há também outros problemas com a pornografia além do vício. Então, por isso que é tão importante conversar com as crianças. Não é só vício. Há muitas outras questões, a forma como as mulheres são tratadas, as atitudes que estimulam, são os roteiros negativos e tudo mais.

Mas vamos voltar ao vício. Então, quem é o mais vulnerável quando se trata de vício. E pode um pai, se ele tem 3 ou 4 filhos, pode ele imaginar com quais dessas crianças ele realmente precisa se preocupar?

DR. GOLA: Em primeiro lugar, temos dois tipos diferentes de suscetibilidade ao vício. Um está relacionado à biologia e à genética. E há uma pergunta muito simples para o diagnóstico: Existe algum histórico de vícios na família?

Se ambos ou um dos pais ou avós foram viciados em algo, então podemos assumir uma alta probabilidade para essa vulnerabilidade entre os filhos.

E o segundo fator que um psicólogo irá considerar é a vulnerabilidade. E por meio de alguns estudos, sabemos que quem desenvolve o uso problemático da pornografia geralmente possui menos habilidades na regulação emocional. Logo, eles ficam ou mais depressivos ou têm dificuldades em regular ou lidar com suas próprias emoções, eles precisam de algum apoio.

COMO VOCÊ AJUDA UMA CRIANÇA QUANDO IDENTIFICA UMA VULNERABILIDADE?

DR. GOLA: (Se o seu filho tem alguma dificuldade em regular suas emoções), isso é algo que pode ser ensinado. Bons relacionamentos entre pais e filhos, relacionamentos baseados em segurança, onde as crianças são livres para falar sobre tudo e não se preocupam com a reação dos pais - se eles ficariam preocupados, irritados ou desapontados - isso ajuda bastante.

Relacionamentos entre irmãos - entre irmãos mais velhos e mais novos - ajudam muito.

Tudo o que ajuda a lidar com as dificuldades da vida e com as emoções é importante. Onde há permissão para expressar todos os tipos de emoções, especialmente aquelas emoções difíceis, ajuda muito.

Se não temos essa base, logo a vulnerabilidade para o uso excessivo de jogos ou uso de pornografia são altas porque estão mais acessíveis do que substâncias.

KRISTEN: Sim. Falamos muito sobre isso no Defend Young Minds, sobre resiliência emocional e sobre ensinar as crianças a reconhecer suas emoções e desenvolver maneiras saudáveis de satisfazer suas necessidades emocionais. Caso contrário, se você olhar para a vida da criança, a pornografia é uma das coisas mais fáceis de acessar e é um super estímulo que pode distraí-los. Se eles chegam em casa, e sofreram bullying, se estão sozinhos, com raiva ou qualquer outra coisa, vão para a pornografia.

Eu fiz um estudo inteiro sobre “por que as crianças se envolvem com pornografia”. E obviamente uma (razão) era para aprender sobre sexo porquê seus pais não os ensinaram sobre sexo. Mas, outro grande problema era: necessidades emocionais.

Ninguém deseja se sentir mal. Nós faremos quase de tudo para escapar dos sentimentos de ansiedade, sentimentos depressivos. Eu acho que podemos ensinar as crianças maneiras saudáveis de fazer isso, tendo essa ferramenta em seu kit de ferramentas, elas estão menos vulneráveis para a pornografia.

DR. GOLA: Essa é uma ferramenta muito importante. Como você sabe, de acordo com estudos que estávamos fazendo e outros que estamos fazendo, nesse grupo de 7 a 10 anos, a maioria das crianças quando vão ao pornô, vão por curiosidade.

No entanto, quando você olha para os jovens de 14 a 15 anos, você já tem um grupo de cerca de 10% de meninos que assistem pornografia todos os dias. E você não assiste todo dia por curiosidade, você assiste todo dia porque está fugindo de algumas dificuldades da sua vida. Você acabou de encontrar uma forma de se desconectar da vida por um momento ou mesmo algumas horas. Pois, a pornografia sempre proporciona emoção e novidade e uma grande distração, sempre há algo novo para encontrar. E quando você se masturba com isso, também é um prazer.

KRISTEN: E assim, essa combinação cria uma enorme resposta ao cérebro. E como você disse, o cérebro fica sensibilizado para todas essas situações. Eu descubro que sou extremamente atraída por guloseimas, e quando fico chateada, se não tomo cuidado, já estou na frente da geladeira novamente com as portas abertas antes mesmo de perceber.

Então nossos cérebros constroem essas propensões, "soluções", que são difíceis de mudar. E eu tenho que trabalhar muito duro para mudá-las. E eu trabalho. Mas, isso é definitivamente algo que as crianças ainda precisam aprender.

Nó temos um guia especial para ensinar resiliência emocional para seus filhos, então eu convido todos vocês a irem e conferir. Tem maneiras simples e fáceis de ensinar resiliência emocional. E temos muitos artigos sobre o assunto em nosso blog.

COMO A PORNOGRAFIA TORNA MAIS DIFÍCIL OBTER PRAZER EM OUTRAS COISAS

KRISTEN:  Você citou como a pornografia pode sensibilizar o cérebro. Eu imagino isso como se você fosse um alcoólatra dirigindo por uma estrada e acaba vendo um outdoor com uma imagem enorme da sua bebida favorita e ficando com aquele desejo intenso de ter aquela garrafa. Enquanto com alguém como eu, que não bebe, isso nem registra no meu cérebro. Meu centro de recompensas não é ativado. Nesse caso, eu apenas dirijo. Porém, se eu vir um grande outdoor com rosquinhas ou biscoitos ou torta de cereja e sorvete, talvez no meu cérebro se acenda uma luz - não é que eu gostaria disso?!‍

DR. GOLA: É ainda mais complicado pois no caso do uso problemático da pornografia, nós vemos que essa parte do cérebro, nomeada de córtex pré-frontal é responsável por aprender uma variedade de prazeres e deixas de diferentes prazeres - entre as pessoas que desenvolvem o padrão de uso problemático de pornografia, ele fica altamente ocupado por deixas que são preditoras para assistir pornografia. Há um aprimoramento para aprender outras deixas relacionadas à pornografia, mas não relacionadas a outros prazeres. Portanto, torna-se mais difícil obter prazer em outras coisas.

Então, em algum momento, você se encontra em um túnel.

KRISTEN: Tudo o que eu desejo é pornografia.

DR. GOLA: Sim, exatamente.

KRISTEN: E isso não é propício para uma vida produtiva, bem-sucedida e feliz.

DR. GOLA: Sim, há muito sofrimento e dificuldades relacionadas a permanecer em um emprego e relacionamentos, e por fim, muita depressão. Pois, se você tem essa experiência de perder o controle sobre sua vida e sobre o seu comportamento, é muito deprimente e triste, então envolve muito sofrimento.

KRISTEN: Eu honestamente não julgo essas pessoas. Tenho muita compaixão por qualquer um que tenha sido puxado para este tipo de dependência. Meu pai era alcoólatra e um advogado brilhante e isso o derrubou. Minha mãe também bebia, mas ela conseguiu parar. Um dia ela simplismente parou. Então, mesmo bebendo por um bom tempo, ela não ficou viciada porque ela conseguiu simplesmente parar.

COMO VER PORNOGRAFIA ESTÁ MOLDANDO AS PREFERÊNCIAS SEXUAIS

KRISTEN: Definitivamente há certas diferenças nas pessoas e como citamos antes, há outras razões para evitarmos a pornografia. O vício é realmente um problema e nenhum pai deseja que seu filho seja dependente de algo, seja de vídeo games, mídias sociais ou qualquer tipo de substância, abuso or pornografia - visto que a pornografia parece ser a droga mais simples e mais accessível que temos. Se você pudesse ter metanfetamina de graça por 24 horas por dia, 7 dias por semana, através do seu celular em seu quarto, nós teríamos um problema muito maior com metanfetamina. Assim, (pornografia) é visívelmente a droga mais acessível a crianças e a mais prejudicial aos seus roteiros sexuais também.

DR. GOLA: Isso é para um outro tópico, como ver pornografia está moldando suas preferências sexuais, comportamentos e como isso está acontecendo em massa. Isso é um tópico para um outro momento.

KRISTEN: Isso é um outro tópico, é verdade. É bem assustador.

DR. GOLA: Sabemos por meio de pesquisas que crianças que assistem mais pornografia, paradoxalmente sentem menos confiança tratando-se de seus primeiros encontros sexuais e tendem a ter mais ansiedade em relação ao desempenho durante o sexo. Não é pura emoção e diversão, há muito mais autojulgamento e comparação com os outros.‍

KRISTEN: Sim. Quando eu conversei com alguns adolescentes, eu perguntei para meninos e meninas: “Vocês realmente desejariam que a pornografia fosse o terceiro parceiro em seus casamentos? Desejariam se comparar com pessoas que estão em vídeos pornográficos quando fazem sexo com seus parceiros?” Quando ouvem isso, eles respondem: “Não, não queremos”. Mas é isso o que acontece. E eu acho que isso faz parte do porquê isso diminui sua confiança.

O QUE OS PAIS PODEM FAZER PARA AJUDAR OS FILHOS A EVITAR O VÍCIO?

KRISTEN: Qual seria seu conselho aos pais para encerrar isso? Como os pais podem tornar seus filhos ‘à prova de vícios’?

DR. GOLA: Não há uma receita mágica ou um conserto rápido, infelizmente. Para possibilitar o real ‘à prova de vícios’, é preciso desenvolver um relacionamento com seus filhos. E isso leva tempo, é como a jardinagem. Você não pode apenas plantar coisas e esquecer delas. Você precisa cuidar todos os dias ou regularmente.

E um bom relacionamento significa que há muita confiança, é um relacionamento sem julgamentos, há muita abertura para entender as diferenças de perspectiva, ver as mesmas coisas mas de formas diferentes. Esse bom relacionamento é o melhor antídoto, pois auxilia a desenvolver habilidades de enfrentamento emocional e boas habilidades para lidar com o estresse e outras dificuldades na vida. Não há nada melhor.

Essa abertura para conversar a respeito de sexualidade, experiências sexuais, necessidades e assim por diante, é também algo muito importante. Isso é algo que já vimos em pesquisas.

Não importa se alguém está crescendo numa família conservadora ou em uma família liberal, o que importa é se as crianças podem ou não falar com seus pais sobre sexualidade e se os pais não têm medo de conversar.

O que vemos como importante é que essa relação geralmente funciona melhor entre os meninos com os pais e as meninas com as mães - entre os pais e filhos do mesmo sexo. E isso é complicado porque muitos da nossa geração não foram ensinados a conversar sobre sexo, sem tabus, sem timidez, sem ficar envengonhado. Então, isso contribui muito para a auto-educação dos pais.

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COMO CONVERSAR COM CRIANÇAS SOBRE PORNOGRAFIA QUANDO UM PAI TEM ESSE PROBLEMA

KRISTEN: Vamos dizer que um pai tem um filho e deseja alertá-lo, mas esse pai é viciado em pornografia. Ele quer avisar o filho e mantê-lo longe da pornografia, mas se sente um hipócrita para dizer alguma coisa. O que você diria para esse pai? E também, o que você diria para uma mãe que sabe que seu marido não vai falar com seu filho, e mesmo que não seja o ideal, ela deveria ir em frente e fazer isso mesmo assim?‍

DR. GOLA: Antes de tudo, encontre ajuda para que isso não seja mais um problema. Assim, é muito mais fácil ser aberto e conversar e compartilhar a experiência.

KRISTEN: Portanto, tome algumas atitudes para tentar sair do seu problema. E à medida que você dá esses passos, isso o ajudará a se sentir mais confiante para conversar com seus filhos. Eu acho que é um ótimo conselho.

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RECURSOS PARA OS PAIS

KRISTEN: Dr. Gola, onde as pessoas podem encontrar mais coisas suas? Como eles podem se conectar com você se quiserem saber mais sobre o que você está fazendo?

DR. GOLA: A maneira mais fácil é através do meu website: www.drgola.online ou basta digitar no seu navegador e terá um lista inteira das minha publicações, se você desejar marcar uma consulta e conversar, também é possível por meio do website.

KRISTEN: Obrigada, Dr. Gola. Não falamos muito sobre tratamento no Defend Young Minds porque há uma grande variedade de ideias sobre isso, mas ficamos sempre gratos por conversar com pessoas que fizeram pesquisas, estamos muito gratos por você estar compartilhando seu conhecimento conosco e com a comunidade Defend Young Minds.

Convido a todos que assistiram essa entrevista a compartilhá-la com um amigo e também a compartilhar os muitos recursos que temos com o Defend Young Minds, que inclui nossos guias. Temos um guia chamado Meu filho viu pornografia, e agora? Temos um guia sobre como começar a falar com seus filhos sobre pornografia. Certamente, também temos o livro Good Pictures Bad Pictures .

Bem como, o novo Good Pictures Bad Pictures Guidebook for Professionals, o que é ótimo para terapeutas e educadores. Há 15 intervenções, atividades divertidas, para fazer com as crianças para realmente ajudar no tratamento e realmente ajudá-las a internalizar todos os conceitos que ensinamos no livro Good Pictures Bad Pictures para que elas possam aplicar os conceitos.

Dr. Gola, muito obrigada.

DR. GOLA: Estou muito impressionado com o seu trabalho e quantos bons recursos você dá às pessoas. E também quero dizer a todos que estão assistindo que estou muito feliz por você dar esse passo para se educar sobre pornografia e para proteger seus filhos, isso é muito importante.

KRISTEN: Obrigada. Agradecemos por disponibilizar seu tempo.

Dr. Mateusz Gola - psicoterapeuta e neurocientista que ajuda indivíduos com dependência através de trabalho clínico e pesquisa de ponta. Ele é professor associado da Academia Polonesa de Ciências e da Universidade da Califórnia em San Diego. Líder no campo de estudos em neurociência do uso problemático de pornografia. Autor e coautor de mais de 120 publicações de pesquisa. Em seu tempo livre, ele gosta de surfar e conhecer novas pessoas enquanto viaja pelo mundo. Mais informações e agendamento de consultas em: http://drgola.online.